A Parte 1 da análise do Eversolo DMP-A10 centra-se apenas no desempenho e nas funcionalidades autónomas. Mas mantenha-se atento: a Parte 2 está para breve, e vou emparelhar o A10 com o AMP F10 para analisar a qualidade de som desta dupla maravilha.
A Eversolo começou por brilhar nas divisões secundárias, com um plantel habilidoso e com cláusulas de rescisão baixas e acessíveis: DMP-A6, DMP A-6 Master, DMP-A8. Todos eles com potencial para “jogar” contra adversários mais famosos e mais caros.
Com o novo ponta-de-lança DMP-A10, a Eversolo entra na disputada primeira liga da alta fidelidade, batendo o pé aos ‘galáticos’ do high-end. O problema é que, custando o quádruplo do A6, o triplo do A6 Master e o dobro do A8, o A10 afasta-se da capacidade financeira dos seus adeptos de base, em todo o mundo; e da ruidosa claque nas redes sociais, que agora vai exigir vitórias em todos os campos para justificar o preço do bilhete.
Uma coisa é o A6 ganhar por 10-0 à concorrência abaixo dos mil euros. Ao dobro do preço, o A8 já encontrou mais oposição dentro da sua categoria, mas mesmo assim ganhou os prémios do Hificlube.net e da EISA. Agora, o A10 apresenta-se em campo por 3.979€, onde vai defrontar adversários como o Linn Majik DSM, o Cambridge Edge NQ ou o Rose Hifi RS150. Para não falar dos modelos da Rose, da Marantz e da Naim que, pelo mesmo preço ou menos, oferecem leitor-CD e/ou amplificação.
Mas a Eversolo treinou muito antes de entrar em campo: primeiro para poder justificar o preço da sua principal vedeta face aos seus próprios modelos; e depois para fazer face à concorrência externa das outras equipas.
O rol é tão vasto que eu nem devia ter começado a enumerá-lo. Bastaria encaminhar o leitor para o manual ou a brochura de fábrica. No fundo, é lá que todos os ‘analistas’ vão beber esta informação. Mas será que tudo isto funciona como anunciado?
Estou genuinamente surpreendido com a (continuada) falta de uma saída para auscultadores. Para um dispositivo que tem “tudo e mais alguma coisa”, esta omissão parece uma oportunidade perdida. E ainda não foi desta que a Eversolo lançou um leitor de multimédia digital com amplificação integrada, ao contrário do Rose Hifi RS520. Aposto que vai ser no próximo A12…
Tirar o A10 da caixa é como abrir uma prenda de luxo. O dispositivo vem embrulhado num saco de veludo preto, acondicionado numa elegante caixa de cartão preta e adornada com motivos musicais. Lá dentro a espuma de poliuretano garante que tudo chega em perfeitas condições. É óbvio que a Eversolo quer garantir uma boa primeira impressão, mesmo antes de ligarmos o A10 à corrente.
De facto, a Eversolo não brinca em serviço: isto é um carro de assalto para atacar em pleno território do highend! Tanto na robustez da construção, sem parafusos à vista; como no requinte do “design” prismático nos cantos de proteção dos dissipadores, atingindo a plenitude no multifacetado diamante negro do botão de volume, com o seu mini-ecrã OLED e aquele tic-tac sensual das resistências; e culminando no ecrã OLED de 6,5 polegadas (aprox. 17 cm), que se ilumina num sorriso amplo de múltiplas funcionalidades. Nota: podia ser mais sensível ao toque.
Há quem pense que o mini-ecrã OLED no botão de volume, que gira a 33 r.p.m., não passa de “fogo-de-vista”; mas não deixa de ser também uma ideia deliciosa, semelhante à cereja no bolo de chocolate negro. Os dissipadores de calor do A10, entretanto, parecem ter sido concebidos para um carro desportivo como o Ferrari Testarossa, por exemplo. É um facto que contribuem para a estética, mas duvido que o A10 alguma vez aqueça o suficiente para justificar uma opção de “design” tão dramática.
Contudo, é quando se olha para as fotos do conjunto Eversolo A10/F10 (amplificador A/B estéreo, cuja audição-teste se segue em breve), que se torna óbvio o equilíbrio estético inegável na continuidade das alhetas laterais. Ou é isso, ou esta é já a antecipação do “design”da caixa do futuro A12, com um eventual amplificador integrado que, então, sim, vai exigir este nível de dissipação de calor…
Os streamers da Eversolo são como as bicicletas: quando se aprende a andar num modelo, aprende-se a andar em todos (Nota: abrir testes do A6 Master e do A8 aqui e aqui).
Claro que o A10 é uma bicicleta elétrica mais sofisticada, com algumas funções novas como a EQ (e a correção de salas), que exigem algum estudo e atenção. De resto, qualquer miúdo aprende a conduzi-la sem dificuldade, fazendo scroll no ecrã tátil ou na aplicação que reproduz o ecrã em tempo real (modo Cast). E ainda há um elegante controle remoto em metal nobre, leve, ergonómico e prático, para os utilizadores mais conservadores.
No entanto, há sempre alguns detalhes técnicos que podem passar despercebidos até para os mais experientes. Por exemplo:
A reprodução DSD vem configurada de fábrica para DoP (DSD sobre PCM). Para um desempenho ideal, deve ser configurada como DSD Native.
Todas as entradas analógicas (XLR/RCA – Modo de Sinal de Entrada Analógica), quando conectadas a um leitor de CD, Tuner ou outra fonte analógica, por exemplo, devem ser configuradas como ‘Entrada Analógica – R2R – Saída Analógica’.
Nota: Se mantiver a configuração de fábrica (Entrada Analógica – ADC – DSP – Saída Coaxial/Saída Analógica), o sinal analógico vai ser redigitalizado. Por outro lado, no modo analógico puro (R2R), o DSP fica desativado (incluindo EQ e Correção de Sala), pois só funciona com sinais digitais.
O volume das saídas analógicas (XLR/RCA) também deve ser ajustado para ‘Modo Passthrough’ se estiver a usar um pré-amplificador externo, receiver ou amplificador de auscultadores analógico, como foi o meu caso com o Austrian Audio Full Score.
Atenção: Não se esqueça de redefinir as configurações de fábrica ou desativar o ‘Modo Passthrough’ se for ligar o A10 a um amplificador externo ou caixas ativas sem controlo de volume, passando a regular o volume no A10. Nos 0dB, o volume está no máximo e vai saltar-lhe a tampa!
A saída USB e SPDIF DAC deve ser configurada também no ‘Modo Passthrough’ caso utilize um DAC/Amp com controlo de volume, como foi o meu caso com o iFI Diablo 2 para ouvir com auscultadores.
Já vimos que o A10 é um produto refinado em termos técnicos e funcionais. Mas e o som? É assim tão melhor que o do A8 para justificar o dobro do preço?
Se utilizar ambos como DAC, o som vai ser pelo menos muito diferente, porque o DAC do A8 tem chips da AKG e os do A10 são ESS Sabre TI. Mas, não tendo nenhum deles amplificação integrada, como o HiFi Rose RS520, não se pode dizer que tenham um som próprio. Digamos que ambos transportam sinais analógicos ou digitais de excelente qualidade para tudo o que estiver a jusante: colunas ativas, DACs, amplificadores, etc.
Assim, enquanto aguardo pela chegada do AMP F10, testei o A10 com autênticas lupas acústicas, ou seja : os auscultadores Hifiman HE1000, Palma DHS-1, Austrian Audio The Composer e Dali iO12.
Como o A10 não tem, hélas, saída para auscultadores, liguei-o a um HeadAmp/DAC iFI Audio Diablo 2 via USB A/C. Nesta configuração, o A10 funcionou apenas como Streamer. Achei o volume baixo e estranhei ter de puxar bastante pelo volume no Diablo 2, até que descobri que tinha de ligar o USB Volume Passthrough.
Mas quem quer utilizar um DAC externo quando tem à disposição o excelente DAC interno do A10? Liguei-o a seguir a um amplificador de auscultadores Austrian Audio Full Score, analógico puro, via XLR, e pude assim ter uma ideia ainda melhor da notável qualidade de som do A10. Nota: não esquecer ligar o modo Volume Passthrough analógico, também neste caso. No ecrã do botão de volume vai aparecer 0dB para se lembrar de fazer reset, quando utilizar o A10 como pré-amplificador.
De uma maneira geral os ‘Minimum phase’, sobretudo os do tipo ‘Slow’ soam mais ‘analógicos’ e naturais, mas menos detalhados; os ‘Linear phase’, sobretudo os do tipo ‘Fast’ soam mais rápidos, ‘clínicos’ e detalhados. O ‘Low Dispersion’ é um bom compromisso entre ‘Linear’ e ‘Minimum phase, com boa resposta transitória, dinâmica e, ao mesmo tempo, natural. A escolha é sua.
Se quer ouvir diferenças óbvias, aposte na EQ. Aqui sim, pode temperar o som ao seu gosto. E, se a sua sala tem um temperamento difícil, junte-lhe um amplificador externo, um par de colunas, um microfone ou o telemóvel e corra o corretor de salas, seguindo as instruções.
Os maiores ganhos verificam-se no controlo dos graves e na presença da gama média. Mas todos os corretores de salas, que já experimentei, introduzem uma espécie de ‘digitalite’ no som. Por isso, optei pela EQ manual. Porque aqui, quem manda sou eu. Ou, então, não faço nada. Porque quem manda é a música, e é assim que deve ser sempre.
Acho que vou esperar pelo novo Eversolo AMP F10 (2.599 €) de 2 × 200W em Classe A/B para me pronunciar sobre a qualidade de som do conjunto. Porque eles nasceram um para o outro. Ou engano-me muito, ou estamos perante outro dueto ‘tomba-gigantes’ na sua classe de preço.
De facto, ainda não se pode dizer que o A10 tenha atingido o nível de Highend, que de uma maneira geral soa mais orgânico e harmonicamente sofisticado, mas também é muitas vezes pouco prático e completamente inacessível. Com o preço já de si elevado do Highend americano arriscando disparar devido à guerra dos direitos aduaneiros, da China chega-nos, por enquanto (até quando?), algum consolo para os pobres audiófilos portugueses. Por isso, compre agora, antes que seja tarde demais…
Nota: Estas não são, assim, as minhas últimas palavras sobre o Eversolo DMP-A10: a história ainda não acabou! Há mais para ler na Parte 2, onde vou explorar a sinergia com o AMP F10. Entretanto, os leitores podem ouvir o A10 na Delaudio com amplificação Plinius ou Advance Paris.